A MORTE SE ENGANOU
Há um tempo eu voltei do futebol e ao estacionar em frente à casa uma dor desconhecida tomou conta de meu braço esquerdo.
Naquele momento recebi ajuda, penso que do céu, primeiro por saber, naquela tarde da morte por infarto de afamado político, segundo eu possuía preparo físico e terceiro por contar com minha esposa, parentes que vieram me ajudar e ainda algo incomum, estavam no hospital e passaram por onde eu me encontrava, o prefeito e sua esposa. Meia noite, qual a chance disso? Em dois minutos eu estava na ambulância acompanhado por médico e enfermeira a caminho da cidade grande de melhores condições.
Lembro que durante a viajem pensei no que teria acontecido sem meus bons amigos, parentes, médicos, enfermeiras e, até políticos. Sou predestinado preciso a viver mais.
Algo estava querendo pregar a última pena nas asas que me levariam aos céus. Morte, quem pensa que é para me atacar, percebeste quantos amigos me cercaram? Acho que não é só destino é crédito por ter feito aos outros mais daquilo que fazia para mim (resumo da Bíblia).
Preciso atender suas ordens? Não, então recuso-me a morrer. Após consultas, exames e tratamentos eu havia golpeado à morte fazendo-a desmoronar. Continuei firme meu caminho e a morte ali, estirada a meu lado, sem conseguir me assustar.
A morte ficou a pensar no que aconteceria se amolecesse, ninguém mais morrerá, o mundo ficará sem espaço para as pessoas e determinada bradou preciso reagir!
Passado um tempo fui novamente atacado, uma angina, brinquei com a situação pela pérfida vitória que tivera anteriormente, mas no duelo entre a vida e a morte não há brinquedo. Deslumbrado com meu poder, com cautela e precauções tipo internamento em UTIs, exames, consultas, resumindo, tentei dar um susto nela com um “talagaço” de vontade de viver e essa retomada de forças a provocou;
“Faz ideia do meu poder, sabe que acaba de me desafiar?”
“Não, não a reconheço.”
“Sou a morte, não poupo ninguém e não posso fazer de você uma exceção. Pela sua luta e vontade lhe serei amena, não o atacarei de surpresa. Enviarei meus “soldados” antes de buscá-lo.”
“Ótimo, sem ajuda lhe derroto.” Sabedor com seus avisos de quando virá estarei a salvo.
Segui animado e aproveitando cada dia, nunca como se ele fosse meu último. Mas minha juventude e saúde não duraram. Logo vieram doenças e dores que me atormentavam de dia e tiravam meu sossego de noite. “Morrer não vou”, a morte não enviou seus prometidos “soldados”, ela é muito ruim, mas não mentirosa. Eu queria apenas que os dias de minhas doenças passassem logo e assim que me sentisse melhor, zombaria dela. Porém, um dia tocaram meu ombro, me virei e lá estava a ela, a morte.
“Chegou a hora de se despedir deste mundo.”
“Como, e sua palavra? Prometeu-me que antes de vir enviaria seus mensageiros para me avisar e…”
“Eu enviei, lembra da febre que o derrubou, da vertigem que te atordoou, da artrite que atormentou suas articulações? Os ruídos no ouvido? As dores de dente? A sua visão que escureceu de repente? Meu irmão, o sono, para não me esqueceres todas as noites antes de dormir? Você não passava deitado à noite morto? O sono é a minha imagem!”
Não respondi, não soube. Cedi ao destino e a segui.
Levado a escuridão, com somente a energia da alma acessa que ligou meu último alento, a fé. Religião, dogmas nada são sem a fé e eu a mantive mesmo na sombra, no vale das sombras. Tive fé e ela me levou para a luz! O trivial adágio da luz no fim do túnel. Essa luz se vê quando as penas das suas asas te levam aos céus, não aquelas pesadas. Vi à luz! Olhos ofuscados que irão abrir para que eu viva novamente, tenho certeza. Enganei a morte!
Obrigado mãe, por me mostrar e me dar essa luz!
Marconi Leonardi