Brasil e China

Há 62 anos o vice-presidente do Brasil, João Goulart, o “jango”, advogado e estancieiro de São Borja, visitava oficialmente a China, o que foi um marco na condição de primeiro representante oficial da América do Sul ao gigante asiático. A pompa foi expressiva e as pautas econômicas e sociais estreitaram laços diplomáticos com o país que mirava atravessar a segunda metade do século XX com a política de não alinhamento. Não foi em vão aquela aproximação. De forma simultânea por aqui, o presidente Jânio Quadros renunciava deixando estarrecida uma nação inteira. A crise foi profunda. A China por sua vez cuidava de sua transformação, almejado tornar-se um país moderno, poderoso e socialista. Reaqueceram a economia com industrialização galopante e rompeu relações com a URSS, sem qualquer interesse em aderir à guerra fria entre socialistas soviéticos e os EUA. Pretenderam os chineses outra via, tratar da fome e da educação. Entre nós o caminho foi de golpe de Estado e ditadura militar (1964-1985), decretando o atraso em todas as linhas. Enquanto isso a China emergia. A viagem de Lula apanha um país muito diferente daquele visitado por Jango em 1961. Mudou o mundo, a geopolítica e eles muito mais. Está pronta para quebrar a hegemonia dos EUA. O peso diplomático da viagem atual é enorme, com instrumento relevante na bagagem, o da diplomacia bilateral que encontrou porta aberta há 62 anos. Os acordos firmados em áreas sensíveis para os dois países, unem disciplina, determinação e perseverança sino-brasileira para avançarem como parceiros, não obstante, as diferenças políticas com relação ao capitalismo. Cada qual com cultura própria, objetivos comuns para o desenvolvimento sustentável e respeito mútuo. A grande nota consiste na incólume relação bilateral após o vexatório tratamento dispensado à China pelo governo que antecedeu Lula, demonstrando não ter afetado consenso aberto há seis décadas.

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