Por aqui, certamente o episódio mais marcante na semana que se passou foi a áspera discussão do coordenador do setor de trânsito da Prefeitura com um motorista de aplicativo. O motivo da discussão que culminou com a exoneração do servidor foi uma suposta obstrução do trânsito por parte do motorista. O assunto viralizou nas redes sociais e acabou gerando duas ocorrências policiais.
O trânsito é um tema delicado em todo o território nacional, Cachoeira do Sul não foge à regra. Nas últimas décadas o número da frota de veículos aumentou consideravelmente, e o stress também seguiu a mesma proporção.
Como fisioterapeuta alguns anos atrás atendi uma paciente já idosa que morava nas cercanias da Escola Borges de Medeiros, tinha noventa e dois anos. Devido ao seu estado debilitado em função da idade avançada, raramente saía de casa; o fazia apenas quando precisava ir ao médico. Quando voltava dizia: “Meu filho, como tem carros nessa cidade!”. Naturalmente, na época em que era jovem poucas pessoas tinham o poder aquisitivo para comprar um automóvel, a indústria automobilística nem de longe operava no ritmo atual. A velha senhora que assistiu da janela de sua casa ao governador Borges de Medeiros inaugurar a escola não percebeu que com o passar dos anos a vida mudava.
Duas décadas atrás eu escrevi num site de discussões que o trânsito da cidade é caótico, um administrador de empresas democraticamente discordou de mim. O tempo tem demonstrado todos os dias que tenho razão, infelizmente.
Qualquer empreendimento que planeja se estabelecer precisa pensar no estacionamento em seu entorno, preferencialmente dentro de suas instalações. É preciso planejar. Empreendimentos que atraem grande volume de pessoas têm obrigação de projetar com especial carinho o fluxo de clientes que irá movimentar.
Nada justifica o ódio, obviamente. Mas o nosso trânsito está muito mal. Tomara que o prefeito encontre uma pessoa mais capacitada para exercer a função de coordenador de trânsito, que pense nas possibilidades e exercite o diálogo civilizado. Do jeito que está não pode continuar. O lamentável episódio da humilhação pode ser um divisor de águas para um avanço real na mobilidade urbana.
O tempo e o inventário do caos
