O velho do saco

Passei uma infância tranquilo. Não havia o velho do saco que assustou muitas crianças, no máximo histórias do lobisomem e do boitatá. Assombrações meu pai garantiu que não existiam. Lembro pesquisa recente afirmando que no Brasil 41% temem o comunismo e 70% não sabem o que isto significa. Algo está mal nesta história. Até parece embate religioso, o meu deus é o melhor, mas nada sei sobre o teu. Muitos dizem gostar de ditadura, mas, não conhecem seus efeitos. Seguramente a maior parte da população não viveu sob a última (1964–1985). Para dar alguma ideia, nela o inimigo são os próprios patrícios, o povo. O Estado então através do governo impõe uma vontade que não corresponde a liberdade, como valor fundamental ao ser humano. O Brasil viveu ao longo do século XX com golpes de Estado, 1930, 1937, 1946, 1964, 1967, 1969 e provavelmente mais o que impediu Dilma Roussef. Todos com o mesmo pretexto. Dom Helder Câmara o grande Arcebispo de Recife e Olinda dizia que, ao dar comida aos pobres era um santo. Porém, quando indagava sobre as razões da fome lhe chamavam de comunista. A velha questão, quando apertam os sapatos, aparece boitatá e lobisomem. A sociedade passa a aceitar tudo sem interrogações. De um jogador do seu clube preferido tudo sabem, o que ele pode render e o tamanho de sua capacidade técnica. Do seu deputado nada indaga, muito menos do senador. Urge conhecermos a democracia e o capitalismo como fenômenos definidos para a civilização. Nos Estados Unidos, na Convenção Constitucional de 1787 ficou patente o fenômeno da insegurança sobre a democracia. No centro dos debates James Madison, o “Pai da Constituição” deles, descreveu a situação tomando a Inglaterra como exemplo. Argumentou hipótese se toda a população inglesa votasse, as pessoas aprovariam leis que minariam o poder e a prosperidade dos mais ricos e seria injusto e caótico. A discussão não é nova. Aristóteles em 500 a.C disse que, em situação de desigualdade significativa, a maioria agiria para tirar os bens dos acumuladores para distribuí-los. Qual a diferença entre o pensamento de Madison em 1787 e de Aristóteles 12 séculos antes? Enquanto o primeiro temeu a democracia, este preconizou que o poder político enfrentasse a desigualdade em nome da paz social. Mais ou menos o discurso atual de Noam Chomsky, pensador norte-americano, para ele o poder está nas mãos da classe política, mas a questão é saber quem ela ouve, os eleitores ou os bancos. Então esta “estória” de comunismo não cola mais, pois ele não existe. Alguém detém o capital, nos países comunistas, e ele está com o Estado. Portanto, o único sistema que existe é o capitalismo, livre no mercado ou aprisionado pelo Estado. O Brasil é uma República Federativa e Democrática vivendo um Estado de Direito, regido por uma Constituição avançada, consagrando o capitalismo, atualmente de segunda linha mas, capitalista. É o sistema, mais compatível com a natureza humana. Ditadura e comunismo também gostam do capitalismo. Resta saber o que fazem com ele. Onde um está o outro se aproximará. Em recente período de nossa história, houve flerte com a ditadura e desprezo pela democracia. Contudo pesou a lógica. Então prefiro falar em democracia para entende-la no mundo atual. Nesse sentido, lendo Norberto Bobbio você leitor e eleitor, poderá aceitar um conceito extraordinário que ele lhe conferiu: “A democracia é o governo do poder visível, governo do poder público em público”. Então, a quem interessa a ditadura? A quem não cultua a democracia, como valor civilizatório definitivo. Desse modo, esqueçam utopias e curtam a democracia, ela faz muito bem e cuida do ser humano como um valor inalienável e assim o fará até o final dos tempos!

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