Tardes de domingo

TARDES DE DOMINGO
Não sou minimalista, não respondo nada com um vai dar certo! Participo forte. Na adolescência, aproveitei para adquirir conhecimentos e realizar. Final dos anos sessenta, começo dos setenta percebi que o aculturamento não vingava, cegos pela pressa de viver não foi difícil para “jovens geniais” logo abraçados por “velhos gananciosos” criarem ardis e nos impingi-los para que nos posicionássemos junto ao muro para sermos abatidos pelo marqueting.
Criaram a rebeldia dos inocentes. Um conceito de vida pensado por pessoas de cabelos curtos utilizando-se de gênios de cabelos longos, os rebeldes sem causa. Atrativos como “stop Vietnam”, “stop MEC-USAID”, o “Rock & Roll” e o encanto com a velocidade nos emprestavam ares de donos do mundo. Considerávamos o erro um engano, o tempo que gostássemos de gastar não era gasto e que onde estávamos era onde queríamos estar. Aderimos as inovações e deixamos à espera o papo do Papa de amar e servir a Deus.
Sem medo de andar sem lenço, documentos ou chapéus Ramenzoni recebemos de braços e pernas abertas, sim as pernas também pois, veio a pílula e o sexo liberado. Achamos tábuas com mandamentos que queríamos e jurávamos ser nossa a criação destes mandamentos. Medo não existia era um sentimento de situações adversas por andarmos sós, solução? As turmas, jovens com algo em comum, proximidade, modo de ser, música… Ah, a música, desleal forma de aproximação entre os da tenra adolescência. Nada poderia ser melhor, aceitamos o advento “Beatles” e suas “Eleonor”, a faixa de segurança da “Penny Lanne”, Roberto Carlos com a “brasa mora!”, uns “blue caps” e por grana veio de alguém a ideia de tirar o melhor das festas de quinze anos e seus “bolos vivos” das casas das meninas para os clubes. Surgiram as reuniões dançantes onde fazíamos a “corte” com mais ousadia, tímidos e arrojados (?), dançávamos juntinhos, rosto colado e surgia ele, o tesão! Ah, deixa isso tudo e vem brincar de amor.
Reuniões no Comercial e Rio Branco, outras no então Familiar e no Náutico (meu clube) onde pela força mais louca, o destino, fui diretor social e realizava reuniões embaladas por conjuntos. As bandas da capital; Kaos, Impacto… As de Cachoeira; João Roberto, Os Jovens, Os Cristians…
Realizadas na hora mais triste do domingo, à tardinha e como a tristeza é emoção a flor da pele o sucesso eram as músicas lentas, rocks importados e adaptados para canções de amor, de “contato” que permitiam a percepção do bem ou do mal querer dos envolvidos. Lentas e adesivas eram abrasadoras. Ah, e à reputação do Clube e do casal? Bem, havia um comando dado aos conjuntos para mudar o ritmo lento e acalmar os afoitos; …Ocê tá comendo “vrido” meu filho, não pai eu tô é chupando a pedra d’água! Parada útil e constrangedora pela preocupação com o “todo mundo nos olhando”.
Naturalmente, as atrações eram as meninas com os cabelos armados, blusas bufantes e calças Vandeca, umas carinhas angelicais de Martinhas ou de apaixonadas como a da Liliam pelo Leno e mais mil garotas papo firme e os meninos de calça Topeka como o tremendão e o coração tamanho de um trem, bebendo samba com um Minister entre os dedos e uma correntinha ou anel com o “brucutu” roubado de um fusca. Casais, o atrevido ele de cabelo na testa aos beijos tipo splish, splash com descolada de mini saia. Sozinhos, o do carro vermelho e a pobre menina.
Até onde ia nossa ingenuidade? Eu conto! Certa vez contratei, pelo nome, um conjunto de uma cidade próxima a Cachoeira. Na mídia; WONDERFUL FIVE, DOMINGO – 17,00h, ÚNICA APRESENTAÇÃO! Lotou a reunião, gente na Júlio sem conseguir entrar. De onde menos se espera… deu sucesso, pois poucos sabíamos de música ou de inglês, só de paixão (ingênuos?). Até o saudoso João Roberto apareceu por lá e deu seu pitaco; Marconi, que promoção! Depois, com sua conhecida educação saiu sem falar sobre a música. Este sabia tudo!
Talvez hoje isso seja tido como “cafona”, mas me orgulho de ter passado este passado, orgulho-me de ter o que escrever dele e peço que essa lembrança não me diga adeus jamais!

Marconi Leonardi
0423