A Praça e o Mercado
José Cesar Pereira da Silva Filho
O surgimento do direito urbanístico decorreu de natural processo evolutivo do urbanismo. Os fenômenos estético-espacial e econômico-social foram apelos presentes na atualidade. A própria doutrina do Estado Social é o norte nas grandes democracias. Ciência e arte, e organização do espaço urbano visam o bem estar coletivo. O ser humano possui natureza complexa e muito se deve ao individualismo, mas, com apelo ao social. Evocar o passado significa harmonizar a cidade atual, sem retrocesso. Não por acaso a revitalização dos centros urbanos se intensificam, notadamente nas grandes cidades e até apanha médias e pequenas comunas. Aqui perto de nós, restaurantes de época na Quarta Colônia, impecáveis juntando valiosas peças de acervo do século XIX e início do século XX. Jantar por lá ao som de um piano e tenor, onde mais? Então, desde a antiguidade, os mercados públicos se notabilizaram como espaços de convivência social e de intercâmbio de produtos de consumo diário e especiarias. Entre uma banca e outra, a exemplo das feiras livres, busca de pescados, frutas, verduras, cereais, petiscos, produtos artesanais, lanches e pequenos restaurantes. Lembro por exemplo do mestre do Ely e sua culinária na Praça José Bonifácio com o Bar América restaurado. Os que conhecem e curtem mercados públicos, como os de Florianópolis e de Porto Alegre, sabem sobre o que escrevo. O de Belo Horizonte é riquíssimo. Nada utópico ou difícil revivermos o passado por aqui. Em parceria público-privada, por exemplo, instalar um mercado público em Cachoeira como já existiu ao final do século XIX (1881) até a primeira metade do século XX, quando a população urbana não passava de 40 mil pessoas não seria difícil. Com o fim do mercado público, um pedaço de nossa memória se perdeu. Todavia, tivemos nossa Casa de especiarias com um bondoso italiano de caráter rochoso, imigrante, Pascoal Gazzaneo. Na Rua 7 de Setembro entre o Gal. Portinho e Andrade Neves, nossos pais adquiriam do vinho do Porto a lentilha canadense, passando pelos melhores óleos de oliva importados e desembarcados no atracadouro no rio Jacuí. Revitalizar a Praça José Bonifácio seria uma obra notável e nela instalar o novo mercado público, ao estilo do que fez o grande conterrâneo e brasileiro João Neves da Fontoura em 1920. A Praça foi considerada uma das mais importantes e aprazíveis do Estado. O pergolado ainda aguarda restauro. Não se trata de projeto difícil ou utópico. No local das águas o mercado voltaria e o Bar América novamente seria reaberto, conciliando tudo com a rua coberta ideia do governo municipal. Na “carona” projeto de lei para disciplinar o modelo de propaganda que cobre fachadas de prédios antigos e determinação para pintura de época. Não implicaria inventário ou tombamento, porém, manutenção da riqueza arquitetônica existente. A Casa Augusto Wilhelm é exemplo de imóvel da maior grandeza considerando que seus proprietários não se renderam à especulação, ganhando todos os cachoeirenses com a obra de restauro da família. Um projeto deste naipe poderá envolver o Curso de Arquitetura da UFSM, docentes e acadêmicos, afinal a maior obra do século por aqui, a UFSM, é extensão da primeira e maior universidade do interior do Brasil, nascida em 1960 pelas mãos de um homem à frente do seu tempo, José Mariano da Rocha Filho, médico, estancieiro, erudito e Reitor. Portanto a ideia está lançada!