A casa é onde se organiza as armas, as ferramentas e fertiliza o solo

Eu nasci em Júlio de Castilhos, a capital do gado charolês. Não sou cachoeirense, mas me sinto como se assim fosse . Gosto dessa cidade e por isso um dia voltei. Fui criada aqui. Estudei na Escola Rio Branco da Dona Amália Geisel e no João Neves da Fontoura , querida escola estadual.
Sempre fui apaixonada pelos caules rugosos das velhas árvores da Praça José Bonifácio . Nos momentos mais difíceis de minha vida, fechava os olhos e fingia que esfregava o rosto contra os troncos nodosos das árvores da minha praça. A praça me dava uma sensação de útero. De casa. De volta . ( Nós morávamos na Rua Moron, quase detrás da Praça…e eu vivia brincando por ali).
Saudades de tantos amigos daquela época e daquela rua…
Às vezes brigo com pessoas que nem são de Cachoeira e só porque residem há alguns anos aqui se arvoram de conhecedores e críticos furiosos. Ninguém a conhece como nós. E se um dia ficarmos bravos, seremos muito ciumentos dessa terra e poderemos mandar embora os ingratos.
Meu lugar preferido em Cachoeira ( principalmente quando estou triste ou quando preciso entender o que está acontecendo) é o muro lateral do Cemitério das Irmandades. Olhando lá embaixo a Ponte do Fandango, a várzea dos arrozais. As águas escuras do Jacuí. Paro meu carro no estacionamento e me debruço no muro. Olhando aquela paisagem fico por minutos ou até mesmo por horas. Gosto daquele lugar. Ele me acalma. E fica lindo ao entardecer.
Mas tudo na nossa vida tem começo e fim. Um dia começa noutro pode acabar. Assim como nossa própria vida. Voltei para Cachoeira porque aqui estava minha mãe e os meus afetos. A praça, o rio, a várzea dos arrozais, os amigos de escola, minha casa que amo… Gosto de Cachoeira por seu ar interiorano. Porque gosto de dar bom dia e distribuir sorrisos, gosto de abastecer o carro no mesmo posto, comprar flores na mesma floricultura, fazer compras no mesmo mercado e ter vizinhos que plantam temperos, fazem pães em casa e distribuem alegria e companhia quando temos um doente.
” Um homem precisa viajar por si, com seus olhos e pés , para entender o que é seu(…). Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos , e não simplesmente como é ou pode ser.”( * do livro /Mar sem fim / Amyr Klink)
O título do texto de hoje é pura saudade e nostalgia de Valecy Beckemkamp, furtei essa frase do seu livro Casa Demolida. Ele me incentivou a escrever, corrigia meus textos e me mostrava a magia das palavras , das reticências , dos apelos, das frases curtas… Esse foi meu professor e depois professor dos meus filhos no Colégio Militar.
Minha mãe foi embora…e está também na hora de pegar a mala, encerrar capítulos e conhecer melhor outro lugar.

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