Possuo uma certa dificuldade em aceitar o que considero errado, por isso uso o dom da escrita para fazer registros de reclamações. Não que eu sonhe com um mundo perfeito, isso é impossível, haja vista que a gestão é humana, mas algumas transgressões às leis chegam a ser deploráveis e tristes. Vivemos num tempo onde candidatos a cargos eletivos se orgulham de ser “ficha limpa”, usando esse tipo de obrigação básica como bengala com ares de virtuosidade nos discursos políticos. Alguém que encontra uma carteira com dinheiro e devolve ao seu dono fazendo a identificação através de documentos ganha destaque especial nos meios de comunicação. Vivemos uma realidade às avessas do que o bom senso recomenda como minimamente saudável no processo de convivência coletiva.
Na sexta-feira minha amiga Elisandra Duarte publicou no Facebook uma foto da parede lateral à escadaria de acesso a Casa de Cultura Paulo Salzano Vieira da Cunha repleta de rabiscos, através da foto é possível notar inclusive que o corrimão que facilitava a entrada e saída do complexo cultural foi arrancada, pura maldade em estágio tão primitivo que chega a nos promover sustos. Todos nós perdemos com esse tipo de situação, não há vencedores. O reparo que precisará ser feito virá do dinheiro oriundo de nossos impostos, fatia de recurso financeiro que podia ser destinada para fazer a substituição da lâmpada queimada no poste em frente a casa de quem roubou a barra do corrimão da entrada da Casa de Cultura, por exemplo. Ou seja, o vândalo é o pior dos ignorantes, aquele que não se reconhece nos espelhos da vida e que, portanto, não alcança os meandros da evolução; por isso a tristeza nunca termina, apenas se renova.
Mário Quintana adorava sentar nos bancos das praça de Porto Alegre para observar o comportamento das pessoas, já escrevi isso em outra coluna. Ele refletia diante das atitudes, dos gestos, dos semblantes; interpretava em tempo real os signos diversos que não estão à altura de serem decifrados por pessoas vulgares e pobres de espírito que não têm a mínima sensibilidade para um convívio social razoável pelo menos.
Confusão outra vez: Ontem recebi um vídeo via WhatsApp, uma nova confusão ocorreu à noite, na Rua Pinheiro Machado uma luta corporal com direito a chute, socos e pontapés. Não discuto os motivos dos embates, ocorre é que aos finais de semana a violência está se institucionalizando por aqui, só não conclui quem não quer. Chama a atenção também que algumas pessoas estão mais preocupadas em fazer o registro através de filmagens, a tentativa de apaziguar parece estar fora de cogitação. Existem os canais de Justiça, o que ocorre longe deles é barbárie; por mais descrentes que estejamos, convém lembrar que é ela que nos rege; creio que por vezes de forma errônea, o que faz parte do jogo humano.
A vida às avessas
