Já escrevi artigo em jornal impresso revelando minha grande paixão pelo encantado mundo da literatura, de uma época em que era “rato de biblioteca” li mais de mil livros de diversos gêneros. Passei alguns bons anos de minha vida devorando dois livros por semana. A leitura me ajudou muito na vida, até hoje eu colho os frutos daquele tempo, e divido com vocês.
Mas eu também já fui muito fascinado por cinema, aqui não entendam que perdi o gosto, mas eu era um apreciador bem mais presente outrora. Gostava muito do Cine e Ópera Astral, até hoje quando cruzo em frente ao prédio onde ele se localizava e olho para o letreiro suspenso ao alto me vem um turbilhão de imagens à memória. Eu ia às sextas-feiras à noite, era quando ocorriam as estreias. Saía de casa a pé, às vezes também voltava caminhando. O ritual se repetia toda semana. Nunca alguém me abordou na rua ou falou qualquer coisa. Entendam que não havia motivos para ter medo, vivíamos uma época em que a violência ocorria em episódios esporádicos e mais raros. Hoje, porém, essas minhas andanças em busca de lazer e cultura seria inviável a pé. Não que eu cultive inimigos ou pratique algo ilegal, ocorre que contextualmente a inocência não se insere nos cenários onde os sonhos dão lugar à perplexidade. Claro que vivemos uma crise cujos tentáculos alcançam todo um país, trata-se de uma conjuntura nacional; mas eu me apanho à realidade local, essa é a minha cidade. Vivi uma infância onde muitas casas nem muros tinham. Um senhor me contou certa vez que durante as quentes noites de verão seu pai dormia com a janela do quarto aberta nas imediações do Estádio Joaquim Vidal, àquela época isso era possível.
Às vezes, no despertar dos finais de semana a cidade se surpreende com novos atos da barbárie ocorrida enquanto a maior parte das pessoas estão dormindo. O lazer coletivo está cada vez mais complexo de se viver, sobretudo à noite. Infelizmente, as coisas não voltarão a ser como antes nesse quesito, ao menos para nós; talvez as futuras gerações consigam resgatar a paz que nos roubaram a ferro e fogo. Por enquanto é preciso se manter resguardado, eles venceram e o sinal está fechado pra nós, como disse o poeta.
Noites de terror
