Em dois mil e cinco eu fazia um curso ofertado pela Prefeitura de Cachoeira do Sul, junto com dezenas de outras pessoas em busca de qualificação. Os trabalhos eram coordenados pela professora Andrea Simon, de quem sou amigo até hoje. O curso se aproximava do final, estávamos em dezembro, foi quando Andrea teve a ideia de uma gincana para arrecadar brinquedos e alimentos que posteriormente seriam doados para uma creche que seria escolhida em algum recanto de nossa sofrida periferia. O engajamento dos alunos foi total, me recordo perfeitamente. Foram arrecadados vários quilos de alimentos e diversos brinquedos, um sucesso total. Foi decidido que a beneficiada seria a Creche Cristo Rei, no mesmo dia a coordenadora do projeto definiu a data em que íamos entregar os presentes, em comum acordo com a equipe diretiva do educandário. Confesso que não imaginei que a cerimônia seria tão emocionante. Porém, a caminho da creche comecei a refletir sobre o que estávamos levando, tinha até comida como presente de Natal; muitos de nós têm isso todos os santos dias e reclamamos da vida. Temos a mesa farta, mas como faz-se necessário disparar a metralhadora verborrágica em tom de discórdia reclamamos da velocidade da internet; somos ricos e não paramos para refletir, tampouco para agradecer. Não olhamos para o céu, muitos de nós não sabem admirar a formação de um arco-íris no horizonte.
Dezessete anos depois eu ainda me lembro daquela doação envolta em encantos e lágrimas, Deus estava presente. Crianças nos rodeavam pulando e brincando enquanto alguém nos explicava como a creche funcionava. Ao final da visita nos despedimos, nesse momento monitores da creche entoaram uma canção em agradecimento a nós, haviam ensaiado. Vários colegas não conseguiram conter o pranto.
Aquelas crianças que nos emocionaram às vésperas do Natal hoje são adultas. O que não mudou foram os infortúnios da vida, ainda temos crianças pedindo ao Papai um prato de comida como presente, para celebrar a data saciando sua fome, coisa que nós fazemos todos os dias.
Feliz Natal.
Uma história de Natal em 2005
