Foi muito cedo, o diagnóstico de que eu tinha o dom para a escrita veio logo no segundo ano da alfabetização. A proposta era uma redação em que deveríamos descrever sobre nossas virtudes, humildemente listei poucas vertentes de talento, eu era uma criança; mas nunca me esqueci daquele dia. Era um tempo em que entregávamos os cadernos para os professores corrigirem em casa, nem sei se a prática pedagógica atual ainda comporta tal gesto. No dia seguinte recebi o caderno logo no início da aula e imediatamente folhei até a correção do texto, ele trazia uma nota dez no topo, ao final uma observação: “Outra virtude que você tem é escrever bem”. O olhar do menino brilhou, e eu nunca mais parei de escrever. A professora se chamava Eliane, nunca mais a vi. Décadas de distância nos separam desde aquela manhã em que descobri que tinha um bom texto, será que ela ainda lê o que escrevo onde estiver? Se o faz, decerto deve sentir orgulho de ter sido a gênese desse despertar, se comunicar é preciso durante a trajetória passageira onde estamos em constante aprendizado uns com os outros na tentativa de desvendar os signos diversos que elucidam o mundo nos melhores caminhos em busca da felicidade.
Não pensem que enveredei para o texto opinativo há pouco tempo, desde adolescente que questiono muitas coisas. E não é porque quero, cheguei a esse plano com a necessidade de indagar, eu e outros tantos. Não danço conforme a música, na minha personalidade esse espaço conformista inexiste.
Quem toma posição não tem como agradar a todos, a repercussão é livre, como deve ser.
Enfim, estamos em constante aprendizagem uns com os outros, desconfie de quem se julga ser o dono da razão o tempo inteiro, o mundo está cheio de falsos profetas que trazem no cerne da alma a defesa de interesses pessoais, embora no discurso teórico dizem defender o bem coletivo acima de qualquer coisa.
Escrever é uma necessidade.
Escrever é uma necessidade
