Cidadãos de bem presos, bandidos soltos: triste realidade atual

Quinta-feira por volta das nove e meia da noite escutei um estampido, cerca de cinco segundos depois outros dois em sequência. Na minha avaliação tratava-se de tiros, eles estavam sendo disparados numa rua atrás da minha, no Bairro São José. Eu então me dirigi ao pátio, na escuridão noturna comecei a olhar na direção de onde imaginava terem vindo os estampidos, nesse momento escutei gritos. Em seguida mais dois disparos. Me lembrei de um amigo que mora na mesma quadra da referida rua, perguntei via WhatsApp se ele tinha escutado os tiros. Imediatamente respondeu que sim, tinha ido até à frente de sua casa e visto pessoas correndo. No dia seguinte na parte da manhã soube-se que a Polícia estava em perseguição a um foragido do sistema prisional, a abordagem na Rua Dionísio Marques culminou com resistência e disparos de arma de fogo, o criminoso pulou uma grade e entrou dentro de uma residência no Bairro São José.
O falecido “Seu Índio”, que morava próximo ao complexo Centro Social Urbano me disse certa vez que criou-se nas imediações do Estádio Joaquim Vidal. Àquela época podia-se dormir de janelas abertas nas quentes noites de verão, o único perigo eram os mosquitos, visitantes indesejados de todas as épocas. Seu Índio dizia estranhar muito a escalada da violência progressiva. Crimes bárbaros há tempos não são exclusividade das grandes metrópoles urbanas.
Vários anos atrás assisti um filme chamado “Crack, conexão da morte”, me recordo de ter saído do extinto Cine e Ópera Astral impressionado com o poder de letalidade e o grande círculo dos horrores que a droga provocava no contexto social do mundo desenvolvido, na minha ingenuidade de adolescente não imaginava que o inferno viria para cá numa velocidade tão avassaladora. Recomendo a você, leitor, o documentário “Cracolândia”, trata-se de um fidedigno mosaico da dor que ao longo de décadas tem destruído famílias sem a mínima dó e piedade.
Por aqui a chegada do século vinte e um marca também o crescimento da preocupação social com segurança, vários segmentos surgiram para explorar esse enorme filão. As grades se transformaram em figuras recorrentes de nosso cotidiano, como não é possível resolver o problema, melhor deixá-lo do lado de fora. Bandidos circulam com tornozeleira eletrônica de norte a sul do país, enquanto cidadãos de bem têm medo de sair à noite para comprar pão na padaria da esquina. De onde se conclui que os verdadeiros presos somos nós.

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