Quando eu, meus irmãos e vizinhos das imediações da casa onde me criei éramos crianças vivemos uma infância totalmente diferente da qual meninos e meninas dos tempos atuais precisam se submeter. Àquela época, nossos sonhos eram tão puros que construíamos “pernas de pau”, para se sentir nas alturas, era como se nada fosse impossível no encantamento de nossa inocência. Éramos os engenheiros de nossos próprios brinquedos, era preciso projetá-los mentalmente dando asas à imaginação e executar o projeto até o acabamento final. Moro na Rua Aparício Borges, no Bairro São José; por aqui a estrada era dos meninos no início dos anos oitenta: de dia tínhamos futebol e “jogo de taco” em plena via, quando a noite caía entrava em cena o “esconde-esconde” antes dos chamados aos gritos para o jantar e o recolhimento definitivo para o lar, pois pela manhã o compromisso eram as aulas. Naquele tempo minha imaginação infantil não alcançava a projeção de que futuramente a Aparício seria uma das ruas mais movimentadas da cidade. Por aqui os vaga-lumes nunca mais deram o ar da graça nas quentes noites de verão, deve existir uma explicação científica para isso.
Voltando ao assunto dos brinquedos artesanais, qualquer confecção era motivo para alegria, por mais simplória que fosse. Pensam que nos dias de chuvas estaríamos dentro de casa? Sem essa. Aproveitávamos os córregos de água que se formavam na rua para embarcar nossos sonhos nos barcos de papel.
Os barcos de papel
