Me recordo que antes de iniciar as sessões de filmes no Cine Astral a tela projetava uma série de comerciais, eram anúncios publicitários que levavam à lembrança dos cachoeirenses diversas marcas e ajudavam no incremento financeiro que fazia o velho cinema ser um estabelecimento muito rentável. Estávamos em meados dos anos oitenta, distantes da revolução que seria provocada pela internet nos anos seguintes. Àquela época, a liberdade de expressão era mais vigiada, o cidadão ficava à mercê de filtros editoriais caracterizado ao longo de várias décadas pela imprensa tradicional. Havia uma certa aura de romantismo que encobria uma revolta que se materializava em forma de arte, principalmente nas letras de algumas canções, o rock’n’roll era um gritante apelo de rebeldia.
Na sexta-feira pela manhã, ao receber via celular as ofertas de uma rede de supermercados imediatamente comecei a me recordar de algumas décadas posteriores ao atual período, havia uma espécie de mordaça em plena democracia. Claro que esse assunto causa constrangimentos para alguns setores, quando se assume a missão de ser formador de opinião é um risco que se corre. Vivemos um tempo em que até quem fica em cima do muro é criticado, nesse caso muitas vezes inclusive em dose dupla por ambos os lados por não tomar posição.
Mas eu dizia dos comerciais no telão do velho cinema, naqueles tempos era uma forma de obter longo alcance na oferta de produtos e serviços enquanto centenas de pessoas estavam à espera do início da sessão. Como tudo tem um fim, aquele tipo de publicidade se encerrou, o próprio cinema da forma como operava com o tempo chegou à humilde conclusão de que tinha chegado o momento de fechar as cortinas e sair de cena, já havia cumprido sua missão.
Retratos de um tempo que passou
