Meu avô fez 92 anos, e é a pessoa mais meiga que eu conheço.
Não é todo dia que se conhece alguém que faz mais de 90 anos, esbanjando saúde, mas para além disso, todos nós que amamos ele, temos muito a comemorar.
Principalmente por poder partilhar a vida com ele, que repito é a pessoa mais meiga que eu já conheci.
E ele tem todos os motivos para não ser.
Meu avô nasceu em 1930. Período da Era Vargas, em um período de revolução, crises e luta.
Já passou pela 2 guerra mundial, que se estendeu até 1934. Um dos períodos da história mais terríveis que o mundo já viveu.
Em 1964 meu avô viu a ditadura militar encobrir o Brasil. Outro período de fome, luta e disciplina rígida.
Nestes 92 anos meu avô possou por períodos pandêmicos, tempos difíceis, muito trabalho e continuou sendo a pessoa mais meiga do mundo. Mesmo com 7 filhos e trabalhando de sol a sol, ele continuou sendo o homem mais meigo do mundo. Ainda vivenciou dores que nenhuma pessoa merece viver: a perda da sua única filha por um câncer terrível e nos últimos anos a despedida sofrida do único amor que teve na sua vida.
E ele continua meigo.
Toda vez que ele me encontra me dá aquele sorriso gostoso de gratidão pela visita. E moedas. Meu avô até hoje enche meu bolso de moedas. Uma tradição que já beira aos 30 anos. Mas agora ela também dá nota de 2 reais para os netinhos, ou melhor, bisnetinhos.
Meu avô passou por várias tragédias particulares, e até por vezes teve de ter ficado “duro”, mas nunca perdeu a sua ternura.
O que eu quero dizer com isso? Todos nós vamos travar diversas batalhas na vida, umas maiores outras nem tanto. E por vezes elas vão parecer grandes demais para carregar sozinho, mas por mais que o mar esteja agitado, não perca sua essência. Seu sorriso e sua bondade.
Nada justifica você ser arrogante, mau educado e grosseiro. Seja doce. Seja meigo. Seja leve, tem muita gente sendo tempestade.
O exercício de nunca perder a ternura.
