Quem acompanha meus escritos já há vários anos sabe que tenho predisposição por abordar assuntos de nosso cotidiano. Não raras vezes, lanço meu olhar às cenas do passado que insiste em sobreviver em minha memória; então compartilho com os leitores do Portal de Notícias Cachoeira em Foco, onde estou a cerca de dois anos e meio.
Dias atrás publiquei no meu Facebook uma foto de dois primos já falecidos, ambos partiram com uma idade muito baixa para os padrões atuais da saúde humana. À medida que a postagem ia repercutindo com reações, comentários e observações que mais pareciam um grito de dor pela saudade proporcionada pelos desígnios de Deus via aplicativo Whatsapp fiquei a me recordar do tempo da infância e adolescência do pessoal que morava aqui no entorno de casa, onde até hoje resido.
Os guris da então “Vila Ponche Verde” gostavam de se referir a nós como “os guris da São Pedro”, fazendo alusão a uma garagem de ônibus que naquela época existia aqui no hoje Bairro São José, que naquela época também recebia a denominação de vila. Éramos rivais nos jogos de futebol e nas algazarras de crianças, estávamos nos áureos anos oitenta.
Pelo que me recordo, muitos outros moradores encontraram a morte muito cedo aqui nesse lindo pedaço de chão da cidade, hoje respirando um ar pulsante de uma espécie de Centro ampliado.
Uma parcela considerável dos “Meninos da São Pedro” hoje está espalhada por todo os país, foi preciso ir embora devido às questões profissionais e a outros fatores diversos. Àquela época da meninice, jamais se imaginava que um dia estaríamos reunidos novamente, de forma virtual; não se cogitava essa possibilidade nem no delírio mais ufanista da imaginação.
Um dos fatos mais insólitos que por aqui ocorreu nos tempos de “rivalidade” com o pessoal do Bairro Ponche Verde foi narrado por mim alguns anos atrás no Facebook. Havia um açude onde costumávamos nos refugiar durante as quentes noites de verão, localizado próximo à central de retransmissão da TV aberta. Ambas as tribos se refrescavam no mesmo açude, obviamente que uma de cada vez. Certa tarde saímos de casa munidos de armas de espoleta, estávamos em cerca de quinze meninos. A ordem naquela tarde não era recuar acaso eles estivessem por lá, combinamos que pegaríamos uma peça. Quando chegavamos primeiro até o local eles sempre voltavam para casa. Mas naquela tarde saímos de casa dispostos a descumprir o acordo. O terreno era em declive, quando chegamos próximo a um barranco distante cerca de 50 metros do açude alguém foi até sua borda discretamente e fez um sinal de positivo: eles estavam lá. Sem cerimônias, nós então descemos gritando e dando tiros para cima. Imediatamente, todos foram se retirando, houve até quem perdesse suas cuecas na fuga desesperada com medo de que fossem armas reais. Foi engraçado, coisas de guris de uma outra época. Hoje isso daria ensejo para outro tipo de abordagem nesse mundo cada vez mais chato e com frescuras de todas ordens.
Aqueles meninos hoje são adultos, todos amigos. A discórdia era um sentimento de marca menor, relegado aos padrões do humor num tempo de aventuras que consolidou marcas até hoje lembradas. Graças a Deus.
OS MENINOS DA SÃO PEDRO
