Envelhecer dói?

Reparou em suas mãos que estavam repousadas sobre a penteadeira e se assustou. Como o tempo é implacável, teve a impressão que o tempo escorreu entre seus dedos finos e enrugados. É impossível não reparar o estrago que os anos proporcionaram em sua pele. Pega seu pequeno pente e passa nos poucos fios brancos que ainda lhe restam, sente falta dos grossos e abundantes cachos negros que escorriam pelos seus ombros quando jovem, aliás foram eles que encantaram seu adorado e já falecido marido.
Perdida em lembranças, que para ela, eram mais potentes que diamantes, levou um susto quando seu olhar fitou o espelho, aqueles belos olhos azuis que já viram tanta coisa, agora reparam a velha do outro lado do espelho. E em seco engoliu a verdade dolorida, estou velha.
Envelhecer passa a ser um fardo. Todos discutem em voz baixa o que irão fazer comigo, sem ao menos se importar com o que eu penso. Estou velha, não maluca. Insistem em dizer quando eu esqueci a panela de arroz no fogão e em falar que estão cansados das minhas velhas historias, mas sobre o que mais falaria? Das minhas dores de coluna? Da novela? Estou farta de ser um peso na vida dos outros. E assim fui emudecendo… e me calei.
O envelhecimento dói. Física e emocionalmente. Dói para quem vive, dói para quem cuida. Dói para quem precisa tomar as decisões e para quem precisa aceitar a decisão dos outros. O adoecimento dos pais é o pesadelo dos filhos, a velhice dos irmãos/amigos é o anunciado da vida: a vida passa. Se dói, será que não seria o nosso papel, dos jovens, tornar o envelhecimento do outro mais fácil, escutar mais uma vez a velha história, doar o seu tempo a quem já doou tanto do seu.
Mas sabe o que dói mais? Não viver. Não sentir. Não aproveitar. Não ter boas histórias para narrar em uma velhice iminente.
Envelhecer é uma conquista, é para os de sorte. Tenha paciência com os idosos, a vida é um ciclo.

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